Papilas circunvaladas

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pense que sou o vento




"Vento"-Quadro de Vicent Van Gogh



Não abro as malas,
pois ainda haverão despedidas,
lágrimas pela partida,
mas eu com meus pés leves,
quando me der conta,
já estarei longe de vossa vista,
e novamente após um breve reencontro,
logo estarei de partida,
devo reencontrar a vida,
entre lacunas, becos,florestas escondidas,
na língua dos sábios, nos olhos dos mortos,
nas orelhas de gato, nas solas de cada sapato,
nas mãos ansiosas a escrever,
no coração que foi partido,
no amor reconstruído,
da água límpida de beber,
da fruta seca de comer,
e dos segredos do mundo,
que se eu souber de uma vez poderei enlouquecer.
Me vou, mas talvez eu volte.
Como o vento, bento e sem lamentos.



Lucimara Penaforte (Nilakantha)

The Big Brother is watching you!!

     

     Fugindo da temática deste BLOG, hoje quis compartilhar um trabalho que fiz para a matéria da professora Carolina Kallas, que ensina a disciplina de Oficina de texto no nosso curso de Design Gráfico, valendo como horas complementares(o filme foi visto em sala).
   Uma resenha crítica do filme "1984" do diretor Michael Radford, adaptação do livro de George Orwell.
  O intuíto de compartilhar foi devido ao elogio da professora, onde me deu este ímpeto.


Atividade Complementar

Disciplina: Oficina de Texto


Resenha Crítica: Filme 1984

      Nineteen Eight Four (1984) é o título do filme do diretor Michael Radford, que é uma adaptação da obra literária do escritor George Orwell, cujo nome do livro é o 
mesmo.



      O filme de gênero dramático e ficção científica , foi lançado em 1984 e é bem diferente das produções cinematográficas comerciais, de entretenimento e lazer que geralmente é criado para a massa devido a sua distopia e forte crítica ao extremo controle. Ele tem como característica uma tomada mais prolixa, que para alguns pode ser considerada cansativa, Radford conseguiu através do tom da película, cenário, expressão e comportamento das personagens, transmitir uma situação sufocante, opressora, desconfortável e humilhante, envolto a uma alienação aguda, que é reforçada cada vez mais pelo Estado totalitário.

      O protagonista Winston Smith interpretado por John Hurt, é um dos cidadãos condicionados a seguir o regime, estabelecido após a guerra onde foi dividido o mundo em três estados, Eurásia, Lestácia e Oceania tendo este último Londres como sua capital. Ele trabalha no “Ministério da verdade” e é designado a alterar as informações das noticias a serem divulgadas, para que estas sejam pertinentes e relevantes à ordem. Porém, Winston com a sua percepção desperta, e senso crítico latente, começa a observar e analisar com outros olhos o mundo a sua volta, ele por sua vez de forma subversiva também possui um diário que serve para relatar seus pensamentos suas visões, e os esconde em seu quarto fora do alcance dos olhos do “Big brother”, que é uma câmera (tela) que fica em toda parte do estado e em todos os dormitórios para visar que seja seguido tudo que lhes são impostos, remetendo à onisciência que não só Deus pode dispor, e que o homem pode também obtê-lo através da tecnologia para que se aplique com tenacidade este policiamento.

      A limitação de cada individuo através das regras, reflete até na forma em que se alimentam devido às porções contadas de suas refeições, utensílios de higiene pessoal (gilete), padronização do vestuário (sempre uniformizados, homogeneizados dando a idéia de operários, ferramentas, engrenagens de manutenção do sistema em que vivem, uma vez que são separados por setores e responsáveis por determinadas funções), é explicito a ausência de singularidade, autenticidade ou qualquer característica individual/pessoal de cada ser.

      O diretor , através desta trama trouxe ao espectador a sensação de vigia máxima e incomoda, pelo modo que no decorrer do filme Winston e Julia (interpretada pela atriz Suzanna Hamilton) estão sempre burlando e se esgueirando destes grandes olhos do poder, quebrando suas rotinas para que possam se envolver emocionalmente, (para se envolver com outra pessoa, ter filhos, família, era necessária a autorização do estado) carnalmente, conspirar contra e ter um ensaio do que poderia ser uma liberdade em meio ao cárcere que os cercam, uma amostra do que é ter um livre arbítrio.

      Não tarda para que sejam pegos, o quarto onde se encontravam havia uma câmera (ou seja não estavam imunes e nem livres, a sensação que tiveram por poucos instantes foi ilusória devido a eficiência do controle), que ficava atrás do quadro que havia no local. Logo são detidos, capturados, e levados, a cena é muito interessante porque quebra a harmonia que ambos estavam, a serenidade que de ímpeto foi invadida pela policia do pensamento, de corpos nus (de Winston e Julia) leves, claros e “livres” ao contraste de equipamentos, armas, uniformes pesados e escuros dos policiais.
      Como todo estado totalitário, os opositores são torturados, humilhados e ficam cara a cara com suas impotências que são expostas de forma direta atingindo sua integridade, é atacado brutalmente seus psicológicos, físicos e moral. A máxima, de que “Você age e vê o que queremos que veja e seja”, foi através do questionamento à Winston quanto era 2+2, que pela soma matemática é igual 4, porém se o regime impor que seja 5, este será ; o personagem compreendeu isto após incessantes agressões físicas. Por fim, ao ser “liberto”, assumir publicamente que errou, que estava enganado que não foi digno e pedir perdão a massa, e virar exemplo do que não pode ser e levar uma vida apática e a mercê do regime, perde sua audácia.
      Pode-se fazer um paralelo com a mídia de massa de hoje, a forma que é manipuladas as informações seja em telejornais ou mídia impressa, uma vez que jornais e emissoras não são imparciais,eles enfatizam ou minimizam os que lhes convém. A imposição de padrões, costumes através de novelas, seriados, programas disseminam uma fragmentação cultural a população.
      As câmeras sempre presentes, em estabelecimentos, ambientes de lazer, rua , uma vigia constante que a principio era por segurança, mas não há mais esta garantia.
Percebe-se que hoje com maior freqüência, as pessoas estão se auto-vigiando, expondo suas atividades, vida pessoal, em redes sociais que estas estão aumentando cada vez mais suas ferramentas para que essa exposição seja mais explicita, tornando mais fácil até mesmo localizar determinado indivíduo e seguir sua vida dando a sensação de ser mais próximo ao mesmo.
      O próprio “Big Brother” literário/cinematográfico, tornou-se mecanismo de “Reality Show”, que cada integrante da casa onde ocorre o espetáculo expositivo(que não deixa de ser um cárcere), se dispuseram a ficar sob vigilância onde quem resistir e ser bem sucedido nas provas, e tendo também a simpatia e aprovação do público ( que por poder votar em quem vai ou em quem fica, mostra uma participação importante para que o programa aconteça e ter a sensação que tem controle e peso de decisão por algo) será contemplado com 1 milhão de reais, ou seja, o comercialização da privacidade para entretenimento e divertimento da massa.
      Ambas as formas, fictícia e o cotidiano da vida real, expressam os mecanismos de controle da massa, um por sua vez totalitário e outro na forma pseudo-liberdade de escolha.

Autoria: Lucimara Penaforte (Nilakantha)