Papilas circunvaladas

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A boa sem-vergonice dos espontâneos

Apaixonada agora por cachos,
de pessoas que lembram o cheiro de terra molhada após a chuva.
Me atrai aqueles sorrisos brancos,
de dentes fortes que em uma mordida comeria toda a minha carne,
o sorriso escrachado que sai do fundo da garganta,
é projetado com a cabeça para cima e emoldurado com a mão nas ancas,
me desinibe e me chama para a boa sem-vergonhice dos espontâneos.

O suor na sua pele cor de terra a faz brilhar,
seu corpo vira notas musicais,
os movimentos parece dança do acasalamento,
que sutilmente em passos fortes e músculos a mostra,
se pisar no calo parte pra guerra,
com um búfalo nas costas e com o escudo e a espada na mão.

Este povo de sangue quente,
de rosto marcante de tão bonito que é,
revela uma face da cidade com pitada selvagem,
quem nem pimenta em conserva,
que quando se tira a tampa,
o aroma se espalha e atiça quem tá perto,
queima a boca, arde a pele, saem água dos olhos
e fica difícil se segurar.





Nilakantha(Lucimara Penaforte)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sossego do desapego

Cansa o condicionamento que o apego nos põe,
uma hora esgota toda tenacidade que nos prende a algo,
cansada de apego,
meus braços não querem mais segurar,
mudanças, novos ciclos,
sempre, sempre e sempre.
Eis a chegada da maturidade e da aceitação que tudo é uma fase,
uma hora efêmera outrora prolixa...
Faço me refaço,
a cada passo que dou e darei.
Seguirei,
livre de apego.
Se eu preciso mudar,
se as situações mudam,
não faz sentido o apego,
ficaria limitada,
mas em todo o caso,
meu corpo já não o quer mais,
minha mente o recusa,
meu espirito lhe dá as costas.


Nilakantha (Lucimara Penaforte)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pano de bunda



E criam tendências,
Primavera, Verão , Outono e Inverno.
Narizes arrebitados desfilam,
te olham torto por estar fora da moda,
Pobre,
antiquado,
brega,
sem graça,
-Mas é o que tenho pra hoje Madame...
Chinelo antes que não era pra furar o pé,
rachar de tanto andar,
machucar na hora de correr,
hoje é tendência.
Cores variadas de acordo com o seu humor,
combina até com o tom rosado do seu céu da boca,
Com o fundo branco do seu globo ocular,
este modelo fica chic com a sujeira debaixo de sua unha.
Esta calça que parece de palhaço, mas é moda entre os modernos da Europa
combina com...
-Mas madame, para mim isso tudo é pano de bunda. Frescura!
E ela torce o nariz, fica azeda e sem resposta.

Lucimara Penaforte (XNilakanthaX)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Acerto de contas

Houveram três tiros.
Ouviu-se três tiros!
Uma mulher põe-se a gritar. Acho que é a mãe.
-Meu filho!!!!!! Não....
E as palavras são afogadas pelas lágrimas do choro.
Houve um arranque de motocicleta.
Ouve-se um arranque de uma  motocicleta!
- Este já subiu!
Gritou ao subir a rua.
Luzes acendem, cachorros latem, a favela começa a bocejar burlando o sono, em alerta do evento  que se sucedera.
A mãe ainda grita, chora, lamenta,  um fôlego infinito despejado ao filho!
Ouve-se murmúrios.
Houve murmúrios!
-Foi acerto de contas... uma pena, tão jovem.

E da minha janela vejo o corpo estirado no chão, e o sangue rubro demarcando o local exacto,
que o espirito se separou do corpo.
Não deu para ver a fisionomia, pois os curiosos já amontoados atrapalhavam a minha visão.


Lucimara Penaforte (XNilakanthaX)

Amor platônico

Era quase que mecânico, quando havia necessidade de imprimir algo recorria àquela gráfica de seu bairro. Pois era a única que havia; acessível tanto pela distância quanto finanças.
Ela sempre mandara imprimir seus textos de sua própria autoria, sejam eles prosas ou poesias.
E logo após pagar pelo serviço, saia.
E sempre calado, o garoto magro, que de olhar tímido, mão de dedos finos e cautelosos ,
 quando necessários rápidos feito a de um pianista,de roupas largas pelo complexo de seu porte, este, sempre salvava as cópias no computador do "trampo".
Foi se apaixonando, de forma velada, secreta e impronunciável.
Era como um segredo pagão em meio a uma sociedade cristã e conservadora, não poderia vazar.
E ela sempre lá,ia,aparecia, lhe pedia e este sempre a imprimir suas belas poesias.


Lucimara Penaforte (XNilakanthaX) 02:04

À uma injúria

Tem hora que o bom senso vem a tona, você engoli a saliva, e as palavras que iriam sair feito tiro certeiro no coração do desatino descem quadradas, você respira fundo, pausadamente, pontuando os prós e os contras de refutar.
Mas ai tu ficas quieto, e pensa que a agrura que causaria seria tão , mas tão intensa que molestaria por inteiro, física e psiquicamente o individuo a fazê-lo desmoronar, e chega a conclusão de que ainda possui a decência polida que a sociedade cobra para não cometer este assassinato verbal.



Lucimara Penaforte (XNilakanthaX) 01:24

A margem

-Meu Ego, meu ego, meu ego, meu ego e meu ego!

Isso ecoa pelos corredores,contido entre linhas em cada palavra daqueles seres...
É expressado em cada atitude daqueles cidadãos.

E eu me sentindo um peixe fora d'água, só que por opção!

Lucimara Penaforte (XNilakanthaX)